Este espaço foi criado para trocar ideias e atividades da área de Lingua e Literatura, compartilhando com os colegas experiências vividas ao longo da minha profissão.

Língua

Gosto de sentir a minha lígua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesias está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade (...)
(Caetano Veloso)

domingo, 4 de abril de 2010

Leitura e interpretação

Colégio Estadual Gov. Viana filho
Disciplina Língua Portuguesa
Aluno(a)_________________________________ Série______ Turma______

Recordações de uma vida


Nasci no Brás, Rua Carlos Garcia, 26, no dia 30 de novembro de 1906.
Quando eu tinha oito anos a guerra, que começou no 14 e terminou 18. Com a guerra veio muita miséria, nós passamos muito mal aqui em são Paulo. Lembro, na Rua Américo Brasiliense, da Companhia Mecânica importadora que ajudou muitos desses que não tinham possibilidade de aquisição: um porque o pai foi pra guerra, outros porque tinham dificuldade de encontrar trabalho. Na hora do almoço e na hora da janta ela dava uma sopa para famílias do Brás, da Mooca, do pari, da classe menos favorecida pela sorte.
Comecei a trabalhar com nove anos numa oficina de gravura que ainda existe:
Masucci, Petracco e Nicoli. Meu irmão Alfredo, que já trabalhava lá, me encaminhou: era estamparia, gravuras, fundição de placa de bronze... Nessa fábrica foi a minha infância, mocidade e uma boa parte da velhice. Saí de lá com cinqüenta e cinco anos de trabalho, aposentado.
O ano em que me casei, 1937, foi um dos anos de maior miséria em são Paulo. Não sei se foi porque era o começo da guerra, foi um ano muito sacrificado, não tinha serviço, era uma miséria.
Hoje moro com a Isabel, minha filha solteira, e minha filha viúva e os dois netos... Sou aposentado mas ainda faço alguma coisa daquilo que eu sabia fazer, afinal sou responsável pela casa.
A aposentadoria não é nada e preciso pegar serviços de gravação. Pago o aluguel desta casa porque tem um quintal gostoso para os netos, árvores.
Quando encontro os amigos da oficina que trabalharam trinta, quarenta anos comigo é uma satisfação enorme, lembrando o que fazíamos; as amizades lá eram boas. Porém, o mais importante em minha vida foi o meu casamento, o nascimento das filhas, o casamento da primeira filha, o nascimento dos filhos da minha filha.
Aquilo que eu fiz na vida não foi lá grande coisa. Se estivesse na minha competência eu daria um conselho aos jovens para levar uma vida honesta, uma vida com amor. E se portar direitinho... A coisa mais linda que existe é quando um homem tem a responsabilidade da família, uma boa esposa.
Os velhos de hoje foram os moços de ontem. Devem procurar ainda fazer alguma coisa na vida. Se um velho fosse doente, abandonado, deve-se recolher num lar onde pudesse passar os últimos anos com fartura, boa companhia quando sozinho. Se tem família, embora tenha feito algum deslize na mocidade, acho que devia ser perdoado e tratado muito bem. Há os que partiram para o jogo e a bebida e ficaram por aí abandonados. Mas eu acho que deveríamos olhar até por esses velhos. Eles também trabalharam.
(Memória e sociedade: lembranças de velhos - Ecléa Bosi)


1. Quais são os fatos históricos citados no texto?
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2. Quantos anos o narrador trabalhou na mesma oficina de gravura? O que isso revela sobre ele?
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3. Qual a situação econômica do narrador?
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4. Quais são os aspectos que o narrador considera positivos na vida dele?
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5. Segundo o narrador, como devem ser tratados os velhos?
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6. A situação do aposentado no Brasil. Lembra do caso do narrador: Depois de 55 anos de trabalho ele ainda precisa trabalhar para sobreviver. Será correto, justo? Justifique sua resposta.
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7. Faça um “balanço” da vida do Sr. Amadeu (narrador do texto). Valeu a pena tanto sacrifício? Justifique sua resposta.
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